A onda de solidariedade após desabamento do Edifício Andréa

Por Ariadna Medeiros

Terça-feira, 15 de outubro, era para ser mais um dia normal para os moradores do Edifício Andréa, localizado no Dionísio Torres,  um dos bairros nobres de Fortaleza. Mas, para a infelicidade de muitos, não foi assim. O relógio marcava exatamente 10 horas e 28 minutos quando o edifício desabou e a tragédia aconteceu. 

Os grupos de mensagem instantânea começaram a receber enxurradas de mensagens sobre o acontecimento por meio de vídeos e fotos. Era real. Além disso, houve desabamento também emocional, onde as pessoas do entorno e as que viviam naquele prédio precisavam de toda a ajuda possível. 

Foi quando a bombeira Hellen Belarmino, 23, logo após finalizar um turno de 24 horas de trabalho, decidiu voltar ao dever e ir até o local para ajudar os ‘irmãos de farda’, como ela gosta de denominar seus colegas de trabalho, e as pessoas que ainda estavam soterradas nos escombros. “A primeira impressão que a gente tem quando é bombeiro, é a do dever, eu pensei ‘eu tenho que estar lá’ ” relata.

Apesar do sentimento de dever, Hellen confessa que sentiu empatia por todas aquelas vidas afetadas, direta ou indiretamente. “Foi o sentimento mais forte em mim. Se fosse minha família, eu iria querer 100 por cento dos profissionais efetivos naquele lugar”. 

A onda de voluntariado 

Além de bombeiros, também chegaram ao local fisioterapeutas, psicólogos, médicos, enfermeiros e os vizinhos do entorno se mobilizaram para ajudar a todos que se dedicavam em salvar as vidas que estavam tão frágeis naquele momento. 

Fisioterapeuta Cláudia Gomes em atendimento. Foto: Arquivo Pessoal

A fisioterapeuta Cláudia Gomes movimentou uma equipe voluntária para atender a quem quer que precisasse de algum cuidado, “pessoas [voluntários] estavam se queixando de dor cervical, na lombar e pés porque ficavam muito tempo em pé fazendo o resgate. Elas não podiam parar”, conta. 

Cláudia relata que o sentimento ao chegar no local de desabamento foi de um nó na garganta e vontade de chorar, “eu não acreditava que aquilo era verdade, tive vontade de chorar, porque naquele momento eu vi uma laje sobre a outra e pensei ‘como pode ter pessoas ali dentro?’, foi muito difícil”.

“Eu estava organizando os atendimentos, até a alimentação das pessoas que estavam lá.” Além de prestar atendimento às equipes de resgate, a fisioterapeuta também coordenava as equipes que iam chegando, assim como fazia contato constante com os profissionais da enfermagem que estavam ali presentes, caso alguém precisasse da ajuda deles. 

Fisioterapeuta Cláudia Gomes reunida com os bombeiros. Foto: Arquivo Pessoal

Vizinhança amiga e trabalho de “formiguinha” 

“Eu até me arrepio, eu nunca tinha visto um cuidado daquele. Tanto alimento que chegou naquelas horas, equipamentos que a gente precisava, chegando não se sabia de onde”. O trabalho dos bombeiros era ininterrupto, a bombeira Hellen relata que acontecia revezamento de equipes a cada duas horas, para que todos pudessem descansar um pouco e recuperar o fôlego para continuar salvando vidas. É com muita gratidão que reconhece o trabalho dos civis ali presentes, doando comida, alimentos e até mesmo materiais. Segundo ela, o apoio solidário foi genuíno e vital para o bom trabalho dos profissionais de resgate no local. 

Lembrando de todo o esforço feito para retirar o concreto e encontrar as vítimas, a fisioterapeuta Cláudia Gomes, destaca como uma das coisas mais marcantes foi ver a expressão daqueles profissionais, de cansaço extremo e tristeza. Presenciar essa cena, a deixou muito comovida. “A gente via que estavam passando do limite físico e emocional deles. Estavam sentindo dentro deles todo o sofrimento que as vítimas estavam ali passando, e isso me marcou muito”. 

Hellen e sua equipe estavam presentes no momento em que o jovem David, que ficou famoso por compartilhar uma foto embaixo dos escombros, foi retirado. Ela conta que a técnica utilizada foi parecida com um trabalho de “formiguinha”, onde o jovem foi passado em sua maca de mão em mão na fila formada pelos bombeiros até chegar à viatura do SAMU. 

Para ser resgatado, Davi foi colocado em uma maca e passado de mão em mão. Ilustração: Sara Araújo

“Mesmo com risco da própria vida”

Bombeira Hellen em serviço com seus colegas. Foto: Gilseppe Bonazi

Essa é a frase que os bombeiros proclamam quando entram para a corporação. Hellen diz que o sentimento de estar ali, naquela situação tão adversa, resumiu bem essa frase. Trabalhar nessa ocorrência foi um dos maiores desafios da bombeira em quatro anos de serviço.  O fato de não saber muito bem as condições do solo em que ela e seus companheiros estavam trabalhando dia e noite, Hellen chegou a entrar em um buraco onde só cabia o seu corpo, mas, na hora, ela não conseguia pensar em riscos, apenas em salvar vidas. “Aquilo pode desabar a qualquer momento em cima de você. Na hora, a gente não pensa muito nisso, depois é que a gente vai pensar nas situações que a gente se coloca” narra. 

Tecnologia aliada ao trabalho animal 

Em desabamentos, o tempo é um fator chave para achar o máximo de pessoas com vida. As equipes de salvamento utilizaram a tecnologia de drones equipados com raios infra vermelho para reconhecer pontos de calor (pessoas) em meio aos escombros do prédio é, em seguida, cachorros treinados eram soltos no perímetro para confirmar esses pontos a fim de direcionar as equipes na busca pelas vítimas nos locais indicados, sem estar às escuras. “Existiram alguns equipamentos essenciais: drones com infra vermelho encontravam pontos de calor e os cães de busca e resgate confirmavam – ou não – esses pontos, muitos eram confirmados” declara a  bombeira. 

Ilustração: @its_dingbt
Infografia: Halleyxon Augusto

Conforto psicológico

A coordenadora do curso de psicologia da Universidade de Fortaleza, Ana Karinne,  se reuniu com demais professores do curso para ir até a Praça da Imprensa, onde estavam familiares e pessoas afetadas pelo desabamento, para oferecer apoio psicológico a quem precisasse. Durante dois dias, os profissionais da Unifor estiveram presentes prestando apoio. Mas o trabalho não acabou por aí, a universidade continua oferecendo Serviço de Psicologia Aplicada (SPA) para as pessoas que foram atingidas pela tragédia. “A Unifor, sensibilizada com o desabamento e com as vítimas e familiares, solicitou que os coordenadores dos cursos de saúde poderiam contribuir com as equipes que já estavam ajudando no local”, menciona.

 

4 thoughts on “A onda de solidariedade após desabamento do Edifício Andréa

  • 15 de novembro de 2019 em 15:08
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    Lendo a matéria todo o sentimento do dia volta a memória. Muito bom saber que tinham pessoas tão guerreiras e do bem ajudando neste momento de tanta dor. Gratidão a cada um deles

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  • 15 de novembro de 2019 em 21:45
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    Adorei a matéria,como é bom ver o amor ao próximo.

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  • 20 de novembro de 2019 em 13:24
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    Matéria feita com muita dedicação!

    Resposta

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