Aluna de jornalismo da Unifor, Sofia Herrero reflete sobre a importância ante preservação da memória cultural das regiões e divide suas experiências em Projeto Pau de Arara
Por Mariah Salvatore
Em um mergulho na cultura e raízes do Nordeste, Sofia Herrero, aluna de jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor), encontrou na fotografia uma ferramenta para a preservação e divulgação da memória cultural de sua terra natal. Participante do Projeto de Extensão Universitária Pau de Arara, Sofia explora a migração nordestina e a cultura regional, utilizando o icônico transporte em paus de arara. Coordenado pelo professor Jari Vieira, o projeto oferece aos estudantes uma imersão nas realidades e histórias de comunidades do Cariri, incluindo Nova Olinda e Juazeiro do Norte.
Durante a viagem ao Cariri, Sofia registrou e documentou momentos significativos da vida local. “A experiência foi um presente para mim”, afirma Sofia, ressaltando a chance de mapear um pouco sobre a história por meio da fotografia. O projeto incluiu não apenas a captura de imagens, mas também a interação com os moradores, oferecendo novas perspectivas sobre suas histórias e tradições.
Durante um cortejo popular nas ruas da cidade de Nova Olinda, Sofia enfrentou desafios técnicos, como problemas com a bateria da câmera e lentes sujas, que poderiam comprometer a qualidade das fotos. No entanto, ela considera esses obstáculos menores diante da importância de seu trabalho. “A fotografia é uma forma de dar voz e visibilidade de verdade”, destaca. Ao contar as histórias de pessoas frequentemente ignoradas, Sofia ressalta a função social da fotografia na preservação da memória cultural. Num contexto em que as narrativas do Nordeste são tão estigmatizadas, e raramente têm espaço na mídia tradicional, seu trabalho ganha relevância.
Para Sofia, a fotografia vai além da arte visual, tornando-se um ato de resistência cultural. Ao registrar o cotidiano de uma comunidade, ela acredita que preserva não apenas memórias visuais, mas também as emoções e a identidade de uma região. “Espero que as pessoas se conectem com a simplicidade e a beleza da vida cotidiana capturada nas fotos, atrelado a nossa região, tem uma carga emocional muito forte”, diz a estudante. Ela espera que, enquanto houver quem aprecie essas imagens, os momentos retratados continuarão vivos, perpetuando as memórias e histórias das pessoas que se encontraram pelo caminho.
Quando indagada sobre histórias que a impactaram durante sua pesquisa, Sofia lembra de um encontro especial. “Teve um senhor, mais velho, uns 70 ou quase 80 anos, que era aboiador”, conta ela. Aboiadores utilizam um canto grave para conduzir o gado, um costume enraizado na cultura sertaneja. Ela se encontrou com ele em frente à Fundação Casa Grande, antes do cortejo. Embora estivesse cansado, ele começou a compartilhar sua vida, sem hesitar.
“Ele contou que há 40 anos era aboiador, que sua família inteira seguia essa tradição”, relata Sofia. “Falou como se eu soubesse o que era, e eu não sabia. Pesquisei no celular enquanto ele falava, para entender melhor.” O senhor também compartilhou momentos pessoais, como a dor de perder um filho que foi para São Paulo e morreu atropelado. Mesmo com tantas dificuldades, ele estava lá, participando da festa, sorrindo e disposto a uma boa conversa.
Essa experiência reforçou para Sofia a importância de estar aberto a novas histórias e realidades. “Percebi o amor que ele tinha pelo que fazia e a capacidade de sorrir, apesar de tudo. Foi uma lição sobre a resiliência e a alegria de viver”, conclui Sofia.
Foto de capa: Lorena Louise
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