Hierarquia no futebol brasileiro não caminha para uma mudança

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Nos últimos anos, o futebol brasileiro vem passando por transformações. O Fortaleza Esporte Clube prefere contrariar a lógica e mostrar que o sucesso nem sempre é diretamente proporcional a investimentos milionários

Por Leonardo Piccinini

Existe no futebol brasileiro uma divisão, não oficial, que classifica os supostos clubes mais fortes do país. Ou ao menos é o que dizem. Acontece que o G-12, como é chamado, engloba na verdade aquelas agremiações que recebem atenção maior da mídia, além de cotas milionárias de patrocínio, direitos de transmissão, entre outros benefícios. Há, contudo, uma equipe que insiste em nadar contra a maré. Trata-se do Fortaleza Esporte Clube.

Nos últimos anos, cada vez mais times que não fazem parte do chamado “eixo” vêm se destacando e chegando às cabeças e finais, e mesmo assim continuam sendo tratados como inferiores. “Não tem tradição”, é o que argumentam alguns, para tentar sustentar uma tese de que somente títulos tornam um clube gigante. O curioso é que alguns desses times ditos como da “elite”, vêm perdendo protagonismo nos últimos anos.

Foto: Mateus Lotif / FEC

De 2019 para cá, rebaixamentos e crises político-financeiras fizeram parte do dia a dia de sete das equipes do G-12. Santos, Corinthians, Vasco, Cruzeiro, Botafogo, Internacional e Grêmio não são as mesmas potências de tempos atrás. Neste mesmo intervalo de tempo, uma equipe de fora do eixo ressurgiu das cinzas e vem, ano a ano, escrevendo um dos capítulos mais bonitos da história do futebol do país.

Entre campanhas históricas, em nível internacional e recordes e mais recordes batidos, o Fortaleza é atualmente o grande protagonista do futebol brasileiro. Os feitos se tornam ainda maiores quando observamos o abismo entre os orçamentos: como é possível um clube com investimento de aproximadamente R$258 milhões disputar com clubes que gastam mais de R$1 bilhão em contratações? 

O principal fator tem nome e sobrenome: Juan Pablo Vojvoda. Com mais de 250 jogos no comando da equipe, o treinador afirmou, em entrevista à revista Placar, ter encontrado no Fortaleza o verdadeiro amor. O casamento, que já dura mais de três anos, não é à toa, já que a gestão encabeçada por Marcelo Paz e Alex Santiago compartilha dos mesmos valores que o argentino carrega consigo mesmo. Hoje, Fortaleza e Vojvoda são um só. 

Foto: Divulgação / Fortaleza Esporte Clube

A relação ganha pilares cada vez mais fortes a cada recusa do treinador para assumir outro time. Equipes como Flamengo, Palmeiras, Atlético-MG, Vasco e Corinthians já ofereceram valores irrecusáveis para tirar Vojvoda do Pici, mas o argentino preferiu nem ouvir a proposta. Para ele, há algo que vale mais do que qualquer dinheiro, e que nenhuma equipe além do Fortaleza consegue oferecer: estabilidade e confiança no projeto.

Uma pesquisa realizada em março de 2022, pelo Centro Internacional de Estudos Esportivos (CIES), fundação criada em 1995 pela Fifa (Federação Internacional de Futebol), constatou que o Brasil tem a terceira pior média do mundo em permanência de técnicos no cargo. A instabilidade é tão grande que, somente entre os times do Brasileirão 2024, já houve 24 trocas de comando técnico. O Fortaleza, porém, prefere ir na contramão.

Mesmo nos momentos ruins, como nas 14 rodadas que amargou a lanterna do Campeonato Brasileiro em 2022, a diretoria tricolor optou por manter Vojvoda como treinador. Na ocasião, a confiança no projeto foi recompensada com uma classificação histórica para a Copa Libertadores, sendo a única equipe na história do campeonato a ter conquistado a vaga virando o turno na zona de rebaixamento.

Em 2024, o filme vem se repetindo. Após um início de ano conturbado, houve quem achasse que o ciclo de Vojvoda no Leão estava chegando ao fim. A maré de azar, que culminou na perda do hexacampeonato cearense para o Ceará, começou a mudar com o início do Campeonato Brasileiro e da Copa Sul-Americana. 

A paciência, mais uma vez, foi recompensada. Hoje, o Fortaleza vive seu melhor momento desde que Vojvoda assumiu o comando da equipe. Em uma semana mágica, o Tricolor do Pici conquistou a vaga para as quartas de final da Copa Sul-Americana ao vencer o duríssimo Rosario Central, da Argentina, por 3×1, de virada. E, no último domingo, se tornou o primeiro time nordestino a conquistar a liderança do campeonato no segundo turno, ao vencer o time do Corinthians por 1×0.

Embalada ao som de “Vai no cavalinho, Vai”, hit que contagia o vestiário da equipe após as vitórias, a torcida viu com seus próprios olhos a história ser escrita. Um clube de fora do eixo assumiu a primeira posição da Série A. Não precisou de contratações multimilionárias, ajuda da arbitragem ou se vender para receber investimento externo. Foi o trabalho e a seriedade que levaram o Fortaleza até onde ele está.

Foto: Thiago Gadelha / SVM

O melhor de tudo, é que esta viagem ainda não terminou. Resta saber se o eixo vai aceitar que alguém que veio de baixo chegue ao topo. O que não falta são casos de equipes que foram impedidas de chegar ao seu auge por conta de “influências externas”.

Há quem defenda que a hierarquia do futebol brasileiro nunca vai mudar. Há também os que pensam que ela vai mudar. Mas, a verdade, é que ela já mudou. E a tendência é que, muito em breve, o tal G-12 vire um termo em desuso.

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