Eventos extremos refletem mudanças climáticas no Pantanal e na Amazônia, diz especialista

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Para Juliana Arguelho os incêndios têm causa humana e a legislação ambiental deve agir de forma rigorosa para proteger, tanto o meio ambiente quanto a saúde humana

por Giulia Tessmann

O ano de 2024 já é um dos maiores em emissões de gases estufa advindas de incêndios florestais desde 2005. Esta informação vem do observatório climático europeu Copernicus. 

Para a bióloga Juliana Arguelho, doutoranda em Desenvolvimento Sustentável pela UnB, ao dar uma entrevista exclusiva para a equipe do Newslink, 2024 não foi o único. Os anos de 2019-2021 também marcaram e ainda marcam um período alarmante para o Brasil em termos de emissões de gases de efeito estufa.

“Esses cenários infelizmente refletem a intensificação do que chamamos de eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas, como secas prolongadas e período chuvoso mais curto” declara Juliana.

O desmatamento e a degradação ambiental estão atingindo o Brasil em nível nacional, especialmente nos biomas mais vulneráveis e desamparados como a Amazônia e o Pantanal.

Foto: Vecteezy

Mas qual é o motivo de os estados do Mato Grosso do Sul e Amazonas serem os mais afetados por essa queima? Eles são mais vulneráveis aos incêndios florestais devido a fatores climáticos extremos, como secas prolongadas, e a pressão antrópica.

A Amazônia, onde predomina a floresta tropical, que apresenta uma grande porção da diversidade de espécies globais, se apresenta como uma das principais fontes de emissão de CO2, com mais de 50 mil focos de fogo, de janeiro a agosto.

Já no Mato Grosso do Sul, onde existe o Pantanal, as práticas intensas de agricultura e agropecuária contribuem enormemente para a degradação ambiental desse ambiente. Este bioma exerce papel crucial para a regulação do ciclo de carbono, além de abrigar fauna e flora únicas, registrando quase 2.000 espécies de vegetais.

Juliana Arguelho afirma que, do ponto de vista ambiental, as queimadas causam perda de biodiversidade / Foto: Arquivo Ecopan

“A perda dessas áreas não só aumenta mais ainda as emissões de gases de efeito estufa, mas também diminui a capacidade de sequestro de carbono, agravando a crise climática”, explica a bióloga. 

Ainda por cima, por esses ambientes abrigarem enormes ecossistemas, a perda dessas áreas prejudica na regulação dessa rede ecológica e ameaça a permanência dos povos e comunidades tradicionais nessas regiões.

As consequências dessas queimadas são tanto imediatas quanto a longo prazo, podendo atingir principalmente a saúde humana e a saúde ambiental do planeta.

Foto: Vecteezy

“Do ponto de vista ambiental, elas causam perda de biodiversidade, onde espécies que ainda nem foram catalogadas podem estar sendo extintas nesse exato momento”, esclarece a doutoranda. 

Destaca também a degradação dos solos proveniente das queimadas, que contribui para o aceleramento de mudanças climáticas, já que libera grandes quantidades de gases prejudiciais para a atmosfera.

Os gases do efeito estufa (dióxido de carbono, gás metano, óxido nitroso, ozônio e outros) comprometem de modo mais acentuado os compromissos firmados pelo Brasil no Acordo de Paris, onde falam sobre “Mudanças do Clima”. 

Juliana ainda informa que “Para mitigar esses impactos e voltarmos aos trilhos de alcançar as metas comprometidas é crucial que se reforcem as leis ambientais já existentes”.

Apesar do dano já feito, a bióloga destaca a restauração ecológica como solução, que pode se tornar uma ferramenta eficaz e necessária. “A restauração ecológica refere-se à prática e ao processo de recuperar ecossistemas degradados ou destruídos, restaurando sua funcionalidade, biodiversidade e serviços ecossistêmicos, bem como conservar os ecossistemas que ainda estão intactos”.

Práticas como a restauração de áreas úmidas e alagadas no Pantanal e manguezais na costa do Brasil são cruciais para ampliar a resiliência dos ecossistemas e mitigar impactos das mudanças climáticas.

Mas a doutoranda salienta: “Devemos levar em consideração que a restauração nem sempre resulta na recuperação total das condições anteriores à degradação, mas pode auxiliar na regeneração das paisagens se o projeto contabilizar esse tempo de sucessão ecológica”. 

É claro que não vai haver a recuperação da área toda, mas este pode ser um meio de cumprir as metas climáticas e ajudar na educação ambiental, desempenhando um papel crucial nesse processo de conscientização da geração futura.

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