Colecionador cearense de games destaca a contínua luta para preservar jogos antigos

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Videogames feitos há décadas passadas correm risco de serem esquecidos e perdidos; saiba por quê

por João Pedro Almeida Pimentel

O videogame é uma mídia artística e de entretenimento totalmente baseada em hardware. Este tipo de tecnologia é algo que constantemente evolui e, com o tempo, as máquinas e circuitos que estão disponíveis dentro de cada, tais como console de videogame e computadores ficam ultrapassadas. Isso faz com que os videogames lançados em hardwares antigos não funcionem mais em máquinas modernas.

Ainda existe, no entanto, o problema de licenciamento de certos jogos. Alguns games possuem músicas de outros artistas, aparições de pessoas famosas ou são construídas baseadas em outras obras como filmes ou livros. Tudo isso significa que para relançar esses jogos para plataformas modernas, envolverá um processo legal que a maioria dos desenvolvedores preferem evitar.

Diferentemente do cinema, os jogos são uma mídia recente que somente começou a aparecer no mercado a partir dos anos 70. Por isso, atualmente, não existe qualquer jogo que tenha conseguido entrar em domínio público. 

No cinema, vários filmes fundamentais para a criação da mídia já entraram no domínio público. Um exemplo disso é o filme francês “Le Voyage dans la Lune”, de George Mélies. Um dos primeiros filmes de ficção científica da história já está disponível no domínio público há anos e pode ser encontrado gratuitamente em plataformas online como o Youtube.

No Brasil, de acordo com a Lei 9.610/98, regulamenta que toda obra entra em domínio público, somente 70 anos depois da morte do criador ou 95 anos depois do lançamento original da obra.

Para os videogames, isso significa que um dos jogos mais importantes já feitos como o Super Mario Bros original do NES, revolucionário para jogos de plataformas, lançado em 1985, só entrará no domínio público em 2080, ou 70 anos depois da morte do criador Shigeru Miyamoto, que continua vivo em 2024, com 71 anos.

De fato, jogos antigos feitos para plataformas antigas enfrentam inúmeros problemas. Isso, porém, não impede de alguns jogadores entusiastas colecionarem estes consoles e games velhos. 

Um destes colecionadores é o cearense William Correia, coordenador e doador do Museu Itinerante do Videogame Itinerante, que recentemente esteve presente no shopping Iguatemi Bosque.

Para Correia, a principal dificuldade que os colecionadores de jogos enfrentam na atualidade é o preço. Como estes jogos já saíram da circulação de venda pela suas publicadoras originais, os chamados “scalpers” são os únicos que vendem esses games. O método de “scalping” nos jogos consiste em alguém que possui uma cópia original do jogo vendê-lo por um preço exorbitante, pois como o jogo não é mais vendido oficialmente, isso permite com que o scalper pratique qualquer preço que ele quiser, mesmo que seja absurdo.

Um exemplo de scalping, Chrono Trigger, o RPG do “time dos sonhos” da Squaresoft está sendo vendido online por preços muito altos / Foto: Ebay

Correia também destaca que a oxidação é algo difícil na preservação. O hardware fica antigo e mais frágil, quando entra contato com a umidade. Os circuitos ficam danificados, causando dano irreparável ao console ou ao computador.

Um dos métodos legalmente cinzas para preservar jogos antigos é a emulação. Este procedimento consiste na criação de uma máquina virtual dentro de alguma outra máquina mais moderna, possuindo todos os softwares e BIOS necessários para rodar um console antigo. 

Este método pode ser considerado ilegal, pois ao colocar ou baixar um software que você não possui ou não comprou, você esta reproduzindo ele sem a permissão do dono da propriedade intelectual. Sendo considerado pirataria e um crime no Brasil de acordo com a Lei 9.610/98.

Mesmo assim, para William, esta pode ser a maneira mais conveniente de poder preservar jogos antigos, pois, com a emulação é possível jogar jogos que nunca foram relançados de uma maneira extremamente fácil. O colecionador, porém, como coordenador do museu, destaca que ao praticar a emulação, deve ser feito com o software que a pessoa possui legalmente.

Uma das tendências atualmente na indústria dos jogos são os remakes. A criação de um jogo baseado em um game mais antigo, entretanto, completamente refeito do zero com várias mudanças para audiências modernas.
O melhor exemplo dessa onda de remakes é o da série Resident Evil. A série, que começou originalmente no PlayStation 1, foi importante para a criação do gênero de terror nos videogames. Mesmo assim, a Capcom, desenvolvedora da franquia, não relançou nenhum jogo da trilogia original do PS1. Optando em refazê-los do zero com remakes que são completamente diferentes dos originais, estes remakes foram sucessos enormes, com Resident Evil 2 Remake tendo vendido 14 milhões de cópias.

Comparação de Resident Evil 2 com o seu remake
/ Foto: Nick930/Youtube

Para William, esta onda de remakes não serve para a preservação de jogos. Isto porque eles são completamente diferentes dos originais. O exemplo de Resident Evil é o melhor, pois, os remakes existem, mas os jogos originais ainda continuam não sendo relançados, logo eles não são preservados. Para o colecionador, isso faz com que muitos jogadores jovens não se interessem em jogar os jogos originais.

A preservação de jogos antigos é algo difícil, e recentemente uma pesquisa nos Estados Unidos apontou que 87% dos jogos lançados no país não estão mais à venda, sendo classificados como “criticamente em perigo”. 

Colecionadores como William e o Museu Itinerante do Videogame funcionam como uma maneira nobre para preservar jogos, consoles e computadores antigos que correm o risco de serem esquecidos para sempre.

Veja abaixo alguns dos consoles e tecnologias raras do Museu Itinerante do Videogame:

Famicom, versão japonesa do NES, apelidado no Brasil de Nintendinho / Foto: Reprodução
O Dreamcast, o último console da Sega / Foto: Reprodução
O Virtual Boy, considerado o maior fracasso da história da Nintendo / Foto: Reprodução
Os dois modelos diferentes do PlayStation 1 / Foto: Reprodução

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