Ao lado do jornalista e professor gaúcho, Eloisa Loose e Sílvia Marcuzzo relataram a atuação jornalística no contexto da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul, no primeiro dia do 8º CBJA
Por Leonardo Piccinini
A cobertura da tragédia no Rio Grande do Sul ficou marcada por diferentes histórias de pessoas que perderam familiares, amigos, casas e bens. Os jornalistas gaúchos Moreno Osório (PUC-RS), Eloisa Loose (RBJA/UFRS) e Sílvia Marcuzzo (RBJA/Freelancer) relataram como priorizar as narrativas individuais em detrimento ao fato em si, talvez não seja o melhor caminho. Feitos de forma virtual, os depoimentos deram sequência à programação de abertura do 8º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental (CBJA).
Sílvia explica que a mídia conseguiu mostrar detalhes do desespero das pessoas, mas não a questão de fundo. “A imprensa convencional não se atreve a destacar que o Rio Grande do Sul vem passando por um desmonte na política ambiental. Se houvesse manutenção, o colapso dos sistemas de abastecimento de água da cidade teria sido minimizado”, expõe.
Neste contexto, Osório relembra a enchente que assolou Porto Alegre em 1941. Ele conta que, à época, foram construídos sistemas anti-cheias a fim de evitar que a tragédia se repetisse. “Os diques que acompanham a costa do rio Guaíba, construídos entre as décadas de 1950 e 1960, seguraram até onde deu. Mas o que a gente viu foi que o abandono e a falta de manutenção dessas estruturas cobraram um preço alto”.
Os três palestrantes confessaram que foram atingidos pelo desastre, alguns direta, outros indiretamente; e que o melhor caminho para prevenir que algo assim ocorra novamente, é entender o cerne do problema. Para Eloisa, o campo jornalístico contempla muitas formas diferentes de fazer jornalismo, mas os critérios acabam tirando alguns assuntos e algumas discussões da pauta. “Temos uma cobertura preventiva bastante frágil ou até mesmo ausente. Não temos a ideia de que cobrir esses assuntos seja prioridade dentro dos critérios de noticiabilidade, já que estamos falando de possibilidades e não certezas”, reflete.
Sílvia diz que, no contexto onde vivemos, no qual as mídias têm um poder absurdo, saber comunicar é essencial. “Existem muitas camadas em torno das pautas ambientais. “A questão climática que interfere nos negócios, a factual, e também, claro, a informação que explica o contexto de onde estamos indo, e como isso vai afetar as nossas vidas”.
No final, a professora Eloisa destacou a importância de entendermos que a tragédia ainda não terminou, e que, na verdade, está longe de acabar. “Ainda há milhares de gaúchos passando por dificuldades. Lidando com o luto, com o desemprego e com a perda de suas moradias”. E completou afirmando que “crises não acabam por decisões normativas”.
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