Livro-reportagem com relatos de racismo é lançado em evento na Universidade de Fortaleza
A autora, a jornalista Larissa Carvalho, apresentou o seu livro em companhia de uma pesquisadora sobre o tema e participou de uma sessão de autógrafos
Por Carlos Enrique
A discriminação sofrida pela população negra em Fortaleza é, por muitas vezes, minimizada e esquecida. Como forma de jogar luz sobre esses episódios e levantar questionamentos acerca do racismo presente na sociedade brasileira, a jornalista Larissa Carvalho publicou o livro-reportagem “Mutuê, relatos e vivências de racismo em Fortaleza”, com casos de insultos e segregação direcionado a pessoas negras.
O lançamento aconteceu na manhã de ontem (quinta-feira, 3) durante a palestra “O papel social do jornalismo”. Além da escritora, Luizete Vicente, secretária geral do Sindicato dos Jornalistas do Ceará, e Alejandro Sepúlveda, professor universitário, também compuseram o corpo de palestrantes. O evento aconteceu no marco da programação de recepção dos calouros e veteranos do curso de Jornalismo 2022.1.
Durante a exposição, os participantes debateram temas como a imersão do jornalismo na sociedade brasileira e o racismo estrutural. A escritora do livro-reportagem apresentou problemáticas que a levaram a desenvolver seu trabalho, como o fato de ser negra e de se relacionar com pessoas que sofrem perseguição em função da sua origem étnica.

Para Larissa, escrever um livro sobre um tema tão espinhoso não fazia parte dos seus planos, mesmo tendo um sonho de um dia publicar uma obra. “Desde a adolescência, pensava em ser escritora. Só não pensava que escreveria um livro-reportagem. Tinha em mente lançar um livro de poesia ou de literatura”, afirmou.
Em determinados momentos da gestação de sua obra, ao ouvir os relatos, a escritora percebeu os diferentes abusos direcionados às pessoas negras, mesmo de diferentes regiões do Brasil e do planeta. Além da cor da pele, a forma desprovida de respeito e a discriminação são similaridades que unem esses indivíduos.
“São histórias de alguns anos atrás, mas que se repetem. É um absurdo. Ouvir os relatos foi um momento de grande reflexão. Perceber que isso [a discriminação] vai continuar acontecendo dói bastante. Espero que o ‘Mutuê’ impacte na conscientização de todos”, disse Larissa.
A autora afirma que existe um gritante diferença na forma como o imigrante negro e o afrodescente são tratados pela sociedade brasileira em comparação com certos estratos da população. Ela citou o recente caso do assassinato do congoles Moïse (morto no Rio de Janeiro, no dia 24 de janeiro, por cobrar salário atrasado no local onde trabalhava) para lembrar a maneira com que pessoas naturais de países africanos são vistas pelos brasileiros.
O evento foi aberto aos alunos do Centro de Ciências da Comunicação e Gestão da Universidade de Fortaleza. Ao final da palestra, a escritora autografou os livros daqueles que o adquiriram e respondeu a perguntas sobre sua obra.
Foto em destaque: Sara Sousa