6 anos após a Chacina do Curió, familiares das vítimas ainda aguardam justiça

Movimento com mães das vítimas da maior chacina do Estado do Ceará luta para romper com a invisibilidade do caso e substituir números por nomes, exigindo julgamento para os culpados
Por Sarah de Jesus, Pedro Gehm e Gabriela Guasti
“Não é fácil uma mãe enterrar um filho porque a polícia matou”, relata Edna Carla Souza Cavalcante, 50 anos, mãe de Álef Souza Cavalcante, 17, uma das vítimas da Chacina do Curió.
Na madrugada entre o dia 11 e o dia 12 de novembro de 2015, mais de 100 policiais militares se dirigiram ao bairro Curió, divididos em viaturas e em veículos particulares com placas adulteradas, para realizar o que se acredita ser uma operação de retaliação.
A motivação para o crime teria sido a morte do também policial Vandemberg Chaves Serpa, que foi baleado ao tentar proteger a sua esposa de um assalto em uma praça no bairro Lagoa Redonda.

Segundo declarações do promotor de justiça responsável pelo caso, Marcus Renan Palácio, nenhuma das vítimas da chacina tinha envolvimento com o crime e os responsáveis pelo assassinato não foram encontrados.
Após a análise das provas, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) denunciou 45 policiais pelo envolvimento no crime, porém o Tribunal de Justiça do estado julgou que as provas eram válidas para apenas 34 desses policiais.
A Chacina do Curió deixou 11 vítimas fatais e 7 sobreviventes com ferimentos graves, entre as vítimas estavam 6 menores de idade. De acordo com Edna Carla, o Governo do Estado falhou em prestar assistência às famílias das vítimas e aos sobreviventes.
O Estado mata os nossos filhos e deixa a nossa cova aberta para a gente morrer” Edna Carla
O desabafo trouxe à tona o descaso estatal com o ocorrido, uma vez que o atendimento psicológico e psiquiátrico só foi oferecido pelo Governo do Estado em fevereiro de 2021.
Para prover apoio emocional às mães dos jovens perdidos durante a chacina, foi criado, em 2016, o Coletivo Mães do Curió. Com o lema “Transformar o luto em luta”, o grupo coordenado por Edna Carla age também como um mecanismo de luta pacífica para pressionar o Estado pelo fim da violência policial e para “evitar que outros jovens morram e impedir que outros futuros sejam enterrados”, explica Edna, que complementa “o Estado mata os nossos filhos e deixa a nossa cova aberta para a gente morrer”.
Em 2021, o Movimento foi responsável pelo lançamento do livro de relatos “Onze – Movimento Mães e Familiares do Curió com amor na luta por memória e justiça”, que reúne fotos e histórias sobre as vítimas da chacina.
Atualmente, oito dos 34 policiais indiciados irão a julgamento, os demais acusados recorreram aos Tribunais Superiores para tentar provar sua inocência.Os julgamentos ainda não possuem data para acontecer.
Rádio documentário – As mães do Curió
Seis anos após a maior chacina do Estado do Ceará, as alunas Gabriela Guasti, Maria Estela Assis, Maria Eduarda Rodrigues e Mariana Moura realizaram uma reportagem que relembra o fato, que ficou conhecido como Chacina do Curió. O produto foi desenvolvido como atividade para a disciplina Radiojornalismo, sob a orientação da professora Kátia Patrocínio.
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