Brechós são alternativa ao mercado da moda convencional
Por Nataly Rodrigues e Gabriela Barroso
É de conhecimento comum que a geração de hoje não é a mesma de 20 anos atrás, porém, o que explica as calças jeans largas, os saltos plataforma, as pochetes, as blusas de botão? Porque as tendências das décadas de 1980 e 1990 são peças chaves no guarda-roupa dos millennials? A moda é cíclica, revive o que um dia foi tendência e se renova para agradar os desejos do público atual.
Segundo a professora de moda, Luciana França Jorge, um dos fatores desse ciclo de tendências é o comportamento do cliente contemporâneo. “O consumidor quer se sentir diferente. Antigamente a gente notava distintamente os punks, os grunges, eram grupos bem diferenciados. Mas, hoje, as pessoas querem mostrar sua individualidade”. A professora trata sobre estilo, o que anos atrás era a marca de um grupo, hoje é singular de cada pessoa. Compor looks com peças de diferentes temporadas, mesclar tendências de décadas passadas com a moda atual, é a estratégia encontrada para evidenciar a personalidade do sujeito millennials.

“Eu tenho o interesse de comprar em brechós, porque tem peças diferentes das lojas convencionais. Às vezes com estilo ímpar, ou até mesmo roupas antigas que estão voltando à moda. Além de não promover o mercado fast fashion”, afirma a estudante de Direito, Beatriz Chame.
A professora declara que os brechós são um modelo antigo de negócios desde a década de 1970, uma opção de compra pelo preço mais baixo oferecido. Hoje em dia, a ideia do negócio está mais ligada a sustentabilidade com o objetivo de aumentar o ciclo de vida da roupa. “É uma tendência que tem que continuar, se não a moda vai ficar cada vez mais insustentável. Quanto mais consumidores tiverem consciência do quanto se polui para fazer uma peça nova, mais esse modelo de negócio vai fazer sucesso”, defende.

O interesse pelo consumo consciente levou a estudante de Jornalismo, Mariana Lopes, a conhecer o mercado de brechós. “Eu comecei a pesquisar muito sobre consumo consciente e percebi como a indústria de moda no mundo é ruim. Envolve trabalho escravo, muito gasto de água, coisas absurdas. Fiquei comovida por tudo isso, então, parei de comprar em muitas lojas, como a Zara, Forever 21, Renner, e passei a comprar em brechós”.
Então, em decorrência desse comportamento, motivado com uma proposta de sustentabilidade, o mercado de brechós vem ganhando força e se destacando como uma alternativa à moda convencional e à alta dos fast fashions. Um estudo realizado pela empresa americana ThredUp indica que o mercado de revenda de roupas dobrará de 20 bilhões para 41 bilhões até 2022 e, até 2027, as vendas de brechós vão superar as das grandes redes de fast fashion.
O estudo ainda revela que 64% da mulheres compram – ou estão dispostas a comprar – produtos de segunda mão. E 74% dos consumidores preferem comprar de marcas sustentáveis. A aquisição de um item usado reduz sua pegada de carbono em 82%.
Brechós em Fortaleza
A crise financeira aliada à busca por um consumo sustentável levou a ascensão do mercado de brechós em Fortaleza. Atualmente é possível encontrar desde artigos de luxo às peças de baixo custo, da moda vintage à contemporânea tudo isto está disponível em inúmeras lojas físicas, como também em lojas virtuais.
A estudante de publicidade Iara Pereira é uma das consumidoras desse novo tipo de negócio. “Comecei a consumir em brechós com o intuito, também, de abrir o meu próprio negócio e vender roupas que não utilizava mais. Eu sentia que precisava passá-las para outras pessoas”.

As amigas Tainan Fernandes e Pérola Castro, ambas formadas em Design de Moda e donas do brechó Revival, nos contam sobre esse mercado alternativo em Fortaleza. “A nossa cidade possui muitos brechós online e os fixos não se destacam tanto, pois são discretos. Não é como uma loja convencional, que você vai perceber a sua existência facilmente. Neles, há peças exclusivas, originais , que representam mais o estilo da pessoa do que nas lojas de departamentos”.
O Brechó Revival possui artigos consignados. Quando as pessoas querem desapegar de peças, deixam na loja e, caso não sejam vendidas, podem pegar novamente. Mas, se forem vendidas, o lucro é dividido entre o dono da peça e o brechó mediante acordo anterior.
